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quarta-feira, junho 25, 2008

 

Respostas à Visão

Revista Visão
Perguntas de Sara Belo Luís
Reportagem publicada a 26.06.2008


1. Como ser editor independente num mercado concentrado, de grandes grupos editoriais?

[NM] Não é fácil, de facto. O mundo não está feito para os independentes... só para os dependentes...
Os riscos do trabalho nestas circunstâncias de isolamento e independência são maiores do que parecem. Um manhã acordamos e já nos compraram tudo em volta, podemos ficar cercados... como aconteceu com alguns editores e autores ultimamente... de súbito já não estavam no mesmo sítio que no dia anterior... é a precariedade total, como agora se diz relativamente aos restantes trabalhadores... O mundo está a ser transformado nisso, na precariedade total... só a propriedade do capital se mantém estável... desculpe-me a linguagem.

2. Que "nicho" de mercado pretendem as Edições Nelson de Matos ocupar?

[NM] O da Literatura de qualidade (nos termos mais amplos), a ficção, a poesia, os autores clássicos e contemporâneos, os novos, os modernos e os clássicos. A Literatura, enfim. A História moderna e contemporânea, os textos de intervenção, algumas biografias. Perdoe-me não estar para aqui a falar disso em voz alta.

3. Qual é a viabilidade económica de uma editora independente? É possível ganhar dinheiro, indo além do hobby, do prazer de editar?

[NM] Sim, é possível sustentar esta opção com tranquilidade, se se for suficientemente maduro para se ser capaz de a gerir cuidadosamente. No projecto em que estou envolvido, a questão mais interessante coloca-se ao nível do controlo sobre o crescimento.

terça-feira, junho 17, 2008

 

Vale a pena acompanhar...

http://emdefesadalinguaportuguesa.blogspot.com/

terça-feira, junho 03, 2008

 

Outro depoimento...

Desta vez por solicitação de João Morales, director da revista "Os Meus Livros", que me enviou as perguntas e integrou as respostas num texto publicado no número 64, de Junho de 2008.
1) Que motivos o levaram a entrar em litígio com a Dom Quixote, em 2004?

Para quê continuarmos a falar de coisas do passado? Essa Dom Quixote do meu tempo não existe mais, já teve 3 ou 4 direcções depois da minha saída, já foi vendida, comprada, desmantelada, refundada, é hoje uma empresa que nada tem a ver com o projecto de que eu fiz parte durante quase um quarto de século. Além disso não tive nenhum litígio com eles, na altura. Fui pura e simplesmente alvo de uma tentativa de despedimento “com justa causa” por um gerente que tinha vindo das lâminas de barbear. Recorri para os Tribunais, que me deram razão; mandaram-me regressar às minhas funções. Recusei, vim embora. Ponto final. Já passou.

2) Que motivos o levaram a aceitar o convite da Ambar? Já agora, em que consistia, concretamente, esse convite?

Aceita-se um convite porquê? Provavelmente porque nos seduz, porque nos desafia, porque estamos receptivos ao que nos propõem. Aceitei o convite de dar à Ambar uma orientação editorial coerente, uma direcção, de lhe definir um caminho mais profissionalizado em todas as áreas do trabalho editorial.

3) Porque chegou ao fim essa colaboração?

Porque a Ambar tinha uma excessiva pressa de resultados. Pensava que por ter contratado um profissional com uma experiência acima da média, ia ter resultados na manhã seguinte. É aliás o mal de muitas empresas que por aí andam. Mas infelizmente não é assim que as coisas acontecem. Os resultados, sobretudo os resultados de vendas, são a consequência de um trabalho que leva o seu tempo - sobretudo quando a empresa não tem um passado que suporte minimamente as acções em curso, e tudo tem de ser feito de raiz. Não se pode precipitar os acontecimentos. Tudo tem o seu tempo.

4) Nessa altura, chegou a considerar integrar uma outra editora?

Felizmente, ao longo da minha vida profissional, fui tendo sempre alguns desafios interessantes. Mas, nessa altura, tinha aceite dar resposta ao projecto da Ambar. Não ia voltar-lhe as costas a meio do caminho. Sou um profissional.

5) Porque optou por criar uma editora unipessoal? Neste caso, o editor constitui todos os elos da produção (escolha dos títulos, do papel, do paginador, tradutor, negociação com a gráfica, com a distribuição, etc, etc)?

Decidi desse modo porque, provavelmente, depois de 23 anos a dirigir a Dom Quixote já não tenho paciência para outro tipo de estatuto. O meio editorial está muito confuso, inundado por pessoas que sabem muito pouco de edição, ou que julgam que editar livros se faz em gritaria pelo telemóvel. Por outro lado eu prezo muito a minha liberdade, já tenho alguma idade, e acho cada vez menos graça a palermices.

6) A distribuição é (ou poder vir a ser) um problema para si e para o seu projecto?

Não vejo porquê. Tenho uma Distribuidora, a Sodilivros, fui eu que os escolhi, já antes os tinha convidado para trabalhar com a Ambar, gosto de trabalhar com eles, são excelentes profissionais, e além disso pessoas estimáveis. Não me queixo. Repare nos meus livros, veem-se por toda a parte, vendem-se bem, o Lavagante vai agora na 5ª edição, foi lançado no início de Março. Os meus problemas são outros, não os de distribuição.

7) Como define a sua linha editorial da sua editora? Como escolhe os livros que edita?

Generalista, não há outra palavra. Estou no começo, não é ainda tempo para definir um Catálogo que não posso ainda considerar que tenho.

8) Como encara todas estas movimentações dos últimos meses, no mercado editorial português?

Com calma e naturalidade. Mas também com alguma perplexidade, sem saber muito bem onde é que tudo isto vai parar, em algumas situações... Veremos... a quem vão vender o que hoje estão a comprar... Ou quem vai comprar o que um dia terão de vender...

9) Os motivos pelos quais se fez editor, são os mesmos que o levaram a criar as Edições Nelson de Matos?

Sou editor porque gosto de livros, porque gosto de conviver com os autores e todos os outros extraordinários profissionais ligados ao livro. Sou editor, também, porque aprendi o negócio do livro e agora, tantos anos depois, já não sou capaz de fazer mais nada. Fiz então, com o meu próprio nome, uma editora artesanal. A que alguns, agora, também chamam intimista. Gosto das duas designações.